domingo, 16 de janeiro de 2011

Liberdade é o antônimo de medo - Depoimento de uma garupa

Depois de mais 1.500km na garupa da Roseli vou dar a minha visão do que é ser uma garupa, uns acham que é chato, outros que é uma moleza ficar ali atrás, alguns que é um tédio mortal, em geral, pessoas que nunca sentaram no banco de trás de uma moto, portanto nada melhor que uma garupa para dar um depoimento.
Antes de mais nada é preciso que saibam que tive que enfrentar o ciúme acachapante da Roseli. No segundo dia de viagem comigo ela se jogou ao chão como uma criança manhosa, não se machucou, mas raspou “sem querer” a pedaleira na minha perna deixando-me um hematoma gigante e dolorido. Deixei para lá, podia ser apenas paranóia minha. No dia seguinte, maliciosamente, ela abriu um buraco na minha mala de roupas, vi que precisávamos ter uma conversa séria. Garanti que ela vai ser a sempre a primeira no coração do Paulo, selamos então um armistício e estamos convivendo bem, afinal, não quero brigar com uma garota de mais de 350kg, seria um massacre.
Resolvidas as pendengas é hora de mostrar como viajo na Roseli, essa é a minha poltrona, com assento confortável, apoio traseiro e alças laterais (como bem disse um cara que encontramos na estrada: “isso não é uma moto, é um sofá sobre rodas”), viajo tranqüila e confortabilíssima, (às vezes até durmo) parando a cada 100 km para esticar as pernas, ir ao banheiro, fazer um lanche ou dar comida a Roseli.

Praticamente uma viagem de primeira classe

Levo minhas coisas nesta bolsa, tive que enfiar tudo o que necessito para 17 dias de viagem em uma bolsa de cerca de  35 litros, e até que foi mais fácil do que eu esperava, o Paulo também usa uma igual a minha, a diferença é que a Roseli deixa que ele coloque algumas coisas na bolsa dela, que é a maior de todas, junto com montes de equipamentos e acessórios que ela carrega, exagerada.


Quando estamos viajando estou sempre enxergando em diagonal, se olhar para frente tudo o que vejo são as costas do Paulo, mas graças a minha poltrona consigo ter grande mobilidade, apreciar a paisagem e tirar muitas fotos, garupa adora brincar de tirar fotos pelo retrovisor. Não preciso nem falar que é imprescindível gostar de moto e ter total confiança no piloto sem tentar assumir a posição de co-piloto, que em geral mais atrapalha que ajuda.
Acho que alguns de vocês já devem ter visto essa frase: “Quando viajo de carro eu vejo a paisagem, quando viajo de moto eu faço parte da paisagem”. Depois que comecei a viajar de moto com o Paulo (antes dessa fizemos outras viagens com a Roseli e com a Dragstar, que não chegou a ser batizada) entendi o verdadeiro sentido dessa frase. Viajar de moto é antes de tudo uma paixão, não é para aqueles que estão preocupados com cabelo, com sujeira, com cansaço, estes devem pegar um avião e chegar ao seu destino rapidamente.
Ao viajar de moto a interação com o mundo ao seu redor é completamente distinta daquela proporcionada pelo carro ou pelo ônibus (em outros tempos viajávamos muito de carro e recentemente cruzei parte do Chile de ônibus, portanto, sei do que estou falando), sinto o calor que derrete, o frio que entorpece a ponta dos dedos, cubro-me de poeira e suor, sinto a chuva caindo sobre o capacete, inspiro os odores bons e ruins, alegro-me com o vento refrescante e temo o maligno vento lateral que balança a Roseli de um lado para o outro. Mas quando desço da moto ao fim de mais um dia, cansada, suja e às vezes com fome, a felicidade de ter passado mais um dia na garupa é inexplicável e compensa tudo.


Ser garupa é almoçar sanduíche de 3 dias sentada à beira da estrada e achar uma iguaria


Quando subi pela primeira vez na garupa do Paulo e senti o vento no rosto decidi que eu queria pilotar a minha moto, e assim foi, minha companheira é a Telma, uma doce Virago 535 que me espera em Brasília, louca para cair na estrada, em minha jaqueta tenho bordada a frase: "Liberdade é o antônimo de medo". Por isso, essa provavelmente é minha última viagem como garupa, o que me leva a dizer que ser garupa só não é melhor que ser piloto.


Telma, orgulhosa de seus cromados.


Abraços,
Helenilka


2 comentários:

  1. Show! Excelente depoimento... só falta a cheslong para um sofá completo!
    Como é que estao as coisas por ai no chile?

    []´s

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  2. Noossa.
    Não tem nda q eu pedi..
    Queria o antonimo de detraz e de cima

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