segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

43º dia da viagem - Chapadão do Sul a Brasília - 29 de janeiro

Chegou o último dia da viagem, menos de 800 km e estaríamos em casa, mas não sem alguns atropelos.

Às 9:30h entramos na estrada rumo a Cassilândia, 40 km à frente uma tempestada pior que a do dia anterior nos pegou, o vento era fortíssimo e havia carros parando para esperar a chuva passar, resolvemos seguir ainda que lentamente. Mais 50 km e saímos de Cassilândia, só que havia coisa muito pior que a chuva, buracos, ou melhor, crateras gigantescas que me obrigavam a pilotar perigosamente, desviando de um e às vezes caindo em dois, e assim foi por mais de 100 km. Quando finalmente voltamos a um asfalto decente surgem bois! Desse jeito não vamos chegar nunca a Brasília. 

O jeito é ter paciência

Já próximos a Goiânia, mais chuva, pelo menos agora foi mais fraca. Pegamos um anel viário que contorna Goiânia e não abasteci, esperava encontrar postos de combustível mais à frente, mas isso não aconteceu e a apenas 160 km de casa, anoitecendo, fiquei sem combustível. Que ironia, depois de ter viajado mais de 17.000 km em locais de difícil abastecimento venho ficar sem gasolina praticamente às portas de casa (rsrsrs). O jeito era pedir que alguém parasse, ainda que sem muita esperança, afinal estávamos de volta à cidade grande e ao cada um por si. Para nossa sorte, depois de 20 minutos pára Davi, um goiano vendedor de carvão, que levou Helenilka ao próximo posto (10 km à frente) e depois a trouxe de volta.

Resolvido o problema do combustível paramos mais à frente para jantar, a idéia agora era só parar em Brasília. Segundo Helenilka, a Roseli não queria voltar para casa, então, faltando apenas 50 km apaga tudo, apenas o farol funcionava, não havia mais lanterna traseira, pisca, luzes de freio, buzina, velocímetro, pelo menos o motor ainda funcionava. Não havia o que fazer e seguimos para casa.

Finalmente, às 23:58h, solitários, estávamos de volta ao ponto de partida, Alameda dos Estados em frente ao Congresso Nacional, era o fim da viagem. Sentimentos paradoxais me invadiram, feliz por ter completado a expedição, mas melancólico e sem saber o que fazer amanhã, toquei para casa com a certeza de que amanhã mesmo começo a planejar a próxima viagem.




Caros, embora a viagem tenha acabado ainda iremos postar ao longo da semana algumas informações que serão úteis a quem planeja alguma viagem do gênero. Equipamentos e itens pessoais que utilizamos e aprovamos, aqueles não tão bons, o que foi desnecessário, o que se mostrou muito útil, enfim, o que realmente é importante para se passar tanto tempo na estrada. Em outro post também vamos colocar as despesas separadas por país e itens, especialmente combustível, alimentação e hospedagem. Por último pretendo fazer um balanço de tudo o que a expedição representou para mim, seus desafios e conquistas, mas antes preciso descansar um pouco.

Abraços.

sábado, 29 de janeiro de 2011

42º dia da viagem - Corumbá a Chapadão do Sul - 28 de janeiro

Olá Pessoal!

Hoje o dia foi legal, saímos de Corumbá por volta das 9:30h da manhã, 420 km depois estávamos em Campo Grande, estrada boa, retas intermináveis, pequeno trecho em manutenção com as barreiras caracteristicas. O Pantanal é muito bonito, vimos uma família de capivaras tentando atravessar a estrada, vimos o tuiuiú e alguns veados.



Tiago, não fomos na feira central em Campo Grande, pois quando passamos por lá, só abastecemos, fizemos um lanche e seguimos viagem, de qualquer forma obrigado pela dica.

Quando estávamos a uns 200 km de Chapadão do Sul, nosso destino do dia, começou a anoitecer e junto veio muita chuva e vento. Imaginem vocês, numa estrada desconhecida, anoitecendo, chovendo e ventando, acho que foi o último grande teste, ou talvez serviu para lavar a alma, tirar todos os desgostos que perturbaram a alegria da viagem.

É, o tempo bom ficou para tras, e quando anoiteceu o toró desabou.
50 km antes de Chapadão do Sul, paramos em Paraíso para jantar e por volta das 22:30h, já no destino, escolhemos o hotel e fomos descansar. Amanhã, 29 de janeiro (sábado), se tudo correr bem, dormiremos em casa. Espero estar em Brasília até às 21:00h, se não houver chuva para atrapalhar, vamos chegar 2 dias antes do planejado (foram os 2 dias que não ficamos em Copacabana). No mais, a viagem está rigorosamente dentro do previsto.

Abraços.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

41º dia da viagem – Corumbá – 27 de janeiro

Hoje fomos à imigração para oficializar nossa saída da Bolívia e realizar a entrada de Helenilka no Brasil, mas como o despertador estava no horário boliviano nos atrasamos. Chegamos à imigração brasileira às 12:05h, exatos 5 minutos depois de fechar, nosso plano de ir hoje a Campo Grande parecia mais difícil.
Fui então procurar ajustar o farol, que com a vibração do chão batido estava completamente solto, ao tentar pegar minhas ferramentas descubro que a fechadura do baú traseiro também tinha sido afetada e não abria, agora eu precisava de um chaveiro.
Depois de finalmente conseguir um chaveiro fomos à imigração, a confusão era imensa, um funcionário da Polícia Federal nos orientou a fazer a entrada de Helenilka em Brasília, ou passaríamos a tarde na fila. Resolvemos procurar um hotel e permanecer na cidade, pois já passava das 15h e o calor estava insuportável, e deixar a saída para amanhã cedo, esperamos que amanhã possamos ver muita beleza natural (fauna e flora) ao cruzarmos o Pantanal. Já que não iríamos pegar estrada pudemos saborear uma picanha como há muito não fazíamos e depois aproveitar a piscina do hotel.
Abraços

40º dia da viagem – Santa Cruz de La Sierra a Corumbá - 26 de janeiro

O dia começou mal. Antes de encontrarmos o Diego e a Lígia passamos na praça para tirar algumas fotos, já no caminho para o hotel um policial boliviano nos aborda e tenta a todo custo encontrar coisas erradas para poder nos tirar dinheiro. Primeiro disse que estávamos há mais de 30 dias na Bolívia (prazo permitido para estrangeiros) quando na verdade estávamos há 9 dias, depois insistiu que na minha carteira de habilitação não constava a permissão para dirigir motos, saquei a carteira internacional de motorista e muito a contragosto ele me liberou. Que nojo desses bandidos fardados!
Às 10h saímos da cidade, a estrada é ótima e praticamente sem curvas, propiciando uma viagem econômica e tranqüila. Bem, isso até chegarmos ao chão batido, 46 km de tortura potencializada pelo calor infernal e por dessa vez Helenilka estar na garupa, o que aumentava a instabilidade da Roseli. Levamos uma hora e meia para percorrer esse trecho, o Diego e a Lígia nos acompanharam com muita paciência mesmo não tendo essa necessidade, já que em uma BMW 1200GS percorreriam esse trecho em, no máximo, 40 minutos.
Roseli, a mais valente das customs, enfrentando o chão batido

Passado esse sofrimento paramos na próxima cidade para tomar uma cerveja e comer alguma coisa. Enquanto abastecíamos soubemos que dois casais de São Paulo, que encontráramos no dia anterior no jantar e que viajavam em duas caminhonetes, fora perseguido momentos antes e um dos veículos capotou ao tentar fugir dos ladrões. Receosos, seguimos viagem rumo à fronteira, onde chegamos às 22:30h, e mais uma vez um bandido boliviano, ops, um policial, nos extorquiu dinheiro. Ainda teríamos que voltar no dia seguinte para passar na imigração e fazer aduana da Roseli, mas a alegria de passar a fronteira, entrar no Brasil e deixar a Bolívia, onde tivemos tão maus momentos, era tamanha que não nos importamos, e seguimos para Corumbá em busca de um restaurante e um hotel.
Abraços.
P.S.: Gostaria de fazer um agradecimento especial ao Diego e a Lígia que com muita paciência, cuidado e bom humor nos acompanharam hoje, principalmente nos trechos de chão batido, que teria sido muito mais penoso sem tão agradável companhia. Aguardem nossa visita em Curitiba!


39º dia da viagem – Carretera Cochabamba_Santa Cruz a Santa Cruz de La Sierra – 25 de janeiro

Depois de deixar o hotel fomos abastecer, mas quem estava sendo abastecido era o posto de combustível, coloquei a Roseli na fila e esperei por 1 hora até finalmente poder seguir viagem. O calor castigava e só paramos para comer huemitas
Às 15h chegamos à Santa Cruz de La Sierra, a idéia era achar um hotel e logo depois uma concessionária Suzuki para trocar o óleo e finalmente arrumar o freio traseiro. Aconteceu então uma coincidência incrível. Qual é a probabilidade de que em uma cidade de mais de 1,7 milhão de habitantes nós encontrássemos novamente o Diego e a Lígia, que conhecemos no dia anterior e que seguiu conosco até Cochabamba? Pois foi exatamente isso que aconteceu! Errei o caminho e ao parar para perguntar encontro os dois trocando os pneus da moto, falei que estava precisando arrumar algumas coisas na Roseli e o Diego nos levou a um mecânico, que resolveu tudo rapidamente e me custou apenas US$15.
Mais tarde saímos para jantar uma parrilada com carne argentina, claro, e combinamos de seguirmos juntos até a fronteira amanhã.

Até logo.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

38º dia da viagem – Do km 70 da Ruta 1 à Carretera Cochabamba_Santa Cruz – 24 de janeiro

Quando acordamos e fomos carregar a Roseli vimos que a moto de Curitiba ainda estava lá. No café da manhã encontramos o casal, Diego e Lígia, que estava voltando do Peru, conversamos e resolvemos seguir juntos até Cochabamba.

Boa companhia na estrada

Ao sairmos a temperatura estava em 12°C, o jeito era seguir e assim fomos juntos à Cochabamba. Lá nos despedimos, enquanto eles seguiram viagem nós fomos comer uma pizza e dar uma volta pela cidade, ao contrário do que víramos da Bolívia até então Cochabamba parecia uma cidade mais civilizada, quadras perfeitas, trânsito mais civilizado, sem lixo nas ruas, mas isso era só aparência, a atendente da pizzaria tentou roubar no troco, isso aqui está difícil mesmo. Resolvemos continuar, os politicamente corretos que não me leiam mas pelo menos na estrada minimizamos o contato com o pessoal nativo.
No caminho entre Cochabamba e Santa Cruz tivemos uma grata surpresa. Cochabamba é uma cidade a cerca de 2500m de altitude e Santa Cruz a 416m, ou seja, entre elas há a transição do Altiplano Andino, frio e seco, para a floresta tropical, quente e úmida, é algo simplesmente espetacular, na descida da serra é possível ver a vegetação mudando, o verde se tornando mais intenso, as folhas aumentando de tamanho, as árvores começando a surgir, sentir a umidade se instalando e o calor dando as caras enquanto uma chuva forte caía sem parar.  Foi quando percebemos que estávamos no meio da floresta! Foi emocionante, mesmo tendo reduzido drasticamente a velocidade, em razão da chuva que deixou a pista escorregadia e da queda de pedras e deslizamentos de terra, valeu muito a pena, esse é um trecho de estrada que empolga e faz qualquer um entender a beleza de andar de moto.

No Altiplano Andino

E pouco depois na Floresta Tropical Úmida

Depois de descermos a serra a estrada virou uma reta interminável, pensamos que chegaríamos à Santa Cruz, pois a chuva parara e o tempo estava bom, mas não sabíamos de uma coisa, na Bolívia os postos de gasolina na estrada fecham às 20h! Só restava o mercado negro, que estávamos decididos a não utilizar. Bem, continuamos a rodar na esperança de achar um posto, todos fechados, começamos a procurar um hotel e nada, preocupados seguimos, conversamos com a Roseli e pedimos que ela economizasse um pouco ou ela Iria que dormir na estrada ao relento. Deu certo, no meio da Carretera encontramos o Hotel Torero II, onde a Srª Sílvia nos atendeu gentilmente, o hotel tinha até ar-condicionado! Era mais do que esperávamos. Jantamos e fomos dormir o profundo sono dos motociclistas.
Até mais.

37º dia da viagem - Copacabana a Hotel Gran Poder, Km 70 da Ruta 1 - 23 de janeiro

Depois de tanta incomodação, acordamos e resolvemos ir embora de qualquer jeito deste país horroroso de gente porca e desagradável. Estudamos a rota de fuga no guia 4 rodas que tenho no computador, encontramos duas possibilidades, uma pelo Paraguai e outra mais longa pela Argentina. Queremos evitar a qualquer custo estradas que não sejam de asfalto. Fomos até um cyber café, definimos nosso caminho no Google Maps e então fomos almoçar e partir para a estrada.
Fato Curioso – quando entramos na estrada, saindo de Copacabana, vimos uma placa indicando pedágio, que na verdade é um posto de controle policial, perguntaram porque eu não havia registrado a moto no dia anterior, eu disse que o policial havia me mandado passar, o policial insistiu que provavelmente me mandaram parar e eu segui. Disseram então que precisavam registrar a Roseli, e me cobraram 10 pesos, sem recibo, ticket, nota fiscal, qualquer coisa, inventaram uma taxa que não existe! O que fazer num país onde até a polícia lhe rouba? Fugir dele o mais rápido possível.
Roseli com os olhinhos brilhando ao se afastar de Copacabana.

Seguimos viagem, pegamos um pouco de chuva e frio no caminho e mais tarde, por volta das 19:00h, o frio apertou de verdade, a temperatura estava em torno de 10°C, mas a sensação térmica na moto era inferior a 0°C e chovia muito. Resolvemos parar no primeiro hotel que encontramos (sorte nossa, já que à frente não havia mais nada por cerca de 150 km), que não tem internet, com uma água quente quase fria, mas com bom colchão e bem silencioso, o que ajuda a dormir melhor. Não conseguimos jantar, às 22:00h o restaurante já estava fechado, dividimos os biscoitos que tínhamos e fomos dormir, felizes por ter uma cama quentinha, mas antes vimos que havia uma moto com placa de Curitiba no hotel, pensamos se tratar de um daqueles madrugadores que às 6h já estão na estrada e deixamos para lá.
Abraços.

36º dia da viagem - La Paz a Copacabana – 22 de janeiro

Depois de ligar para a Suzuki descobrimos que era feriado nacional, consequentemente não poderíamos fazer a manutenção na Roseli, pois estava tudo fechado, inclusive algumas ruas do centro e parte da auto pista, que precisávamos pegar para sair de La Paz, que fica num buraco entre as montanhas, num vale. Com jeitinho, e com a orientação de um guarda que nos mandou pagar uma contra mão para facilitar nossa saída (!), conseguimos. Ainda tínhamos que enfrentar o caos das vans em El Alto, para conseguir pegar a estrada para Copacabana. Pacientemente seguimos até a saída e fomos embora felizes, agora pensando que os problemas tinham ficado para trás e que nos divertiríamos por três dias às margens do Lago Titicaca.
Tentando sair do Inferno
Pegando a contramão porque o guarda mandou!

Mais uma vez estávamos errados. Depois de um caminho quase reto cruzamos um estreito de balsa para chegarmos até Copacabana, mais alguns kilômetros chegamos ao Hotel Glória, enquanto eu descarregava a moto Helenilka foi a recepção para fazer o check-in. Quando chego lá com todas as tralhas, bolsas, computador e os cambaus, encontro Nilkinha soltando fogo pelas ventas. O que aconteceu? Eu pergunto, e ela me diz que o hotel não reconhece a reserva, que não teriam aptos de frente para o lago, que a diária seria maior, porque estávamos em 2011, e não aceitariam pagamento com cartão de crédito, tudo diferente do combinado. Endossei a indignação dela, xinguei muito o atendente e o suposto gerente e fomos embora, carregar a Roseli, tudo de novo, e sair atrás de outro hotel.  Procura aqui, não tem, ali, está lotado, vai atrás de outro, nada. Até que encontramos um que possuía um apto.  vago mas a chave estava perdida, eles só poderiam me alugar se o chaveiro fosse lá para abrir a porta e fazer uma chave, pediram que aguardássemos até às 19:00h. Assim fizemos, fomos para um barzinho na frente da praia e ficamos arrumando fotos e filmagens para quando tivéssemos internet publicar. Quando voltamos ao hotel, às 19:00h, a senhora nos falou que não tinha resolvido o problema e que não teria apto para nós. Bateu o desespero, saímos perguntando em tudo que era hotel, hosteria, alojamento e nada, todos lotados, era feriado lembram? Achamos um hotel, onde precisávamos subir 5 andares de escada, sem água quente e caro, não encaramos. Acabamos sensibilizando a Srª Mery, da Hosteria Florência, que colocou 2 colchões na sala onde ela serve café e ficamos por lá mesmo.
Roseli entrando na balsa rumo à Copacabana.

Na balsa, a Roseli tremia de medo, o Paulo teve que segurar sua mão durante a travessia inteira.

Chegamos juntas ao Lago Titicaca.

Ah, o lago é lindo mesmo, como vocês podem ver nas fotos que tiramos, mas outra vez os serviços neste paiseco nos criaram problemas, quando comentamos com o dono do restaurante que ficamos enquanto aguardávamos o outro hotel (o que não tinha a chave de um dos quartos) os problemas que tivemos com o Hotel Glória, ele nos disse que não é a primeira vez que isso acontece e que seria muito bom divulgar para que as pessoas não sejam feitas de bobas. Sendo assim pessoal, quem for a Copacabana, no Lago Titicaca não faça reservas e não se hospede no Hotel Glória, é muito desorganizado, digo isso para não baixar o nível, pois me pareceram uns aproveitadores e sem vergonhas.  

Até breve.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

35º dia da viagem – Potosí à La Paz – 21 de janeiro

Meus Amigos!
Hoje rodamos 520 km no asfalto, legal, mas antes quero contar alguns detalhes do hotel em Potosí.  Quando chegamos à cidade no dia anterior, estava chovendo e depois de nos encontrarmos saímos em busca de um hotel. Achamos um, este não, outro também não, até que por fim encontramos a Hosteria San Antonio, boa apresentação, fachada ampla, estacionamento interno e preço acessível, é este. Pagamos adiantado, pegamos a chave e fomos ao apto. e aí começou a decepção, o colchão era ruim e quando quisemos tomar banho, a água esquentava, mas não havia água fria para acertar a temperatura. Ou se tomava um banho pela porco, ou teríamos que dormir sem banho num colchão ruim. Acordamos cedo e fomos tomar o café da manhã que estava incluso, sentamos no salão e nada da mulher vir nos atender, até que olhando quem ela atendia, descobrimos que tinha que ter uma fichinha que autorizasse a tomar o café, Helenilka foi à recepção e pegou nossas fichas, rapidinho a tonta veio nos atender. Trouxe o café preto, não havia leite, com um pão velho e duro, foi triste (rsrs), engolimos o que dava e fomos para a estrada. A única coisa que funcionou razoavelmente bem foi a internet wi-fi.
 Vocês sabiam que na Bolívia é preciso pagar pedágio só porque uma pista é asfaltada e em alguns lugares ruim? Saudades do Brasil... O caminho entre Potosí e Oruro é belíssimo. Rodamos por entre morros e depois de algum tempo entramos numa planície, a estrada ficou com poucas e suaves curvas, continuamos até El Alto, cidade colada em La Paz.



Entramos em El Alto por volta das 18:00h, todo mundo saindo do trabalho e indo para casa, dá para imaginar o caos? Detalhe, não existe empresa de ônibus, transporte coletivo, então todo transporte de passageiros fica a cargo das vans. Alguém lembra da confusão que elas provocavam no trânsito? Pois é, aqui elas são uns 80% do tráfego, imaginem como é. Entramos no centro de El Alto, tentando fugir da confusão das vans, e para procurar um hotel. Nem um nem outro, o furor das vans era maior e o único hotel que encontramos era horrível, além de caro. Fomos para La Paz, mais 22 km pelo que eles chamam de auto pista (duas pistas vão e duas pistas voltam e bem separadas), caímos no centro da cidade, e agora, como achar um hotel? Quando estávamos parados no posto de gasolina vi um cara de moto e fui até ele para pedir ajuda, o cidadão era da polícia e prontamente nos levou até um hotel com preço acessível e boas acomodações, mas sem internet. Gente a cidade fede, é sujeira e miséria por todos os cantos, simplesmente horrível.
La Paz (não se engane, a noite todos os gatos são pardos)
Saímos para jantar e para nossa surpresa encontramos o Restaurant El Lobo, uma quadra e meia do hotel. Muito bom, preço ótimo, comida boa, música agradável e muito bem decorado. Comemos, bebemos e de barriga cheia fomos dormir.
Até mais.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

34º dia de viagem – De Uyuni a Potosi – 20 de janeiro

Às 6h Helenilka saiu para Uyuni de carona, pois pegaria o ônibus para Potosi às 10h. Às 7h eu já estava tomando café e às 8:30, com a Roseli carregada, partia para Uyuni para de lá seguir a Potosí. Dos 200 km que separam as duas cidades foi-me dito que 80 km seriam de chão batido, mas que estava em bom estado. Depois que se está na estrada não adianta reclamar, era ruim “pra caraca”! Não tinha tanto buraco, mas havia muita pedra e areia solta, e quando havia asfalto não havia sinalização, nem lateral, nem pintura na pista, além de muitas curvas fechadas.
Isso é a estrada, precisa dizer alguma coisa?

15 km após sair de Uyuni, em uma subida com muitas pedras grandes e salientes, Roseli derrapou com a roda traseira em uma e esbarrou com a dianteira em outra, resultado: chão. Roseli fez uma volta e caímos, ainda bem que vinha devagar. Na queda o pedal do freio traseiro entortou um pouco, reduzindo a eficiência da frenagem e comprometendo o resto da viagem. Acho que só conseguirei consertar em Oruro ou La Paz.
Quando cheguei ao asfalto definitivo (até então havia trechos com asfalto intercalados com chão batido) o tempo fechou, começou a chover e a temperatura caiu, detalhe: eu estava chegando à cidade mais alta do mundo, 4060m de altitude, fria por natureza, com chuva então...
Desse ponto até Potosí (60 km) choveu sem parar

Ao entrar na cidade às 16:30, Helenilka me esperava há 2 horas no local combinado com frio e debaixo de chuva, coitada, simplesmente não há rodoviária, os ônibus param na rua. Nos encontramos e fomos procurar um hotel, mas antes disso almoçamos frango assado, até então estávamos apenas com o café da manhã no estômago. O frio era tanto que até Helenilka queria tomar cachaça.
Até breve.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

33º dia de viagem - Salar de Uyuni – 19 de janeiro

A proposta de seguir o carro com guia não deu certo, acabamos nos desencontrando e depois de esperar por meia hora resolvemos seguir sozinhos. Dentro do salar os caminhos abertos podem ser percorridos por qualquer veículo, desde que não tenha chovido no salar, caso contrário a lâmina de água encobre as estradas e corre-se o risco de ficar perdido na imensidão de sal. Confiar apenas no GPS não é uma boa idéia, a Lei de Murphy pode se manifestar...

Roseli no sal

A clássica foto dos expedicionários
Como o salar está seco pegamos uma estrada que parece asfalto de tão boa e rodamos por 15 km, paramos e nos divertimos tirando fotos para então retornar. Do ponto de partida pegamos outra estrada e chegamos ao Museu de Sal, onde não entramos. Neste local há uma praça onde as pessoas podem fincar suas bandeiras, lembrem-se, tem que ser a bandeira de uma nação.
Estrada no Salar de Uyuni

Conta a lenda que um gremista quis colocar sua bandeira, mas não deixaram, uashuashuashuash

Depois disso retornamos ao hotel e dormimos a tarde inteira, eu por ainda estar me sentindo mal, e Helenilka em solidariedade para não me deixar dormir sozinho. Ao despertar caminhamos em torno do hotel e esperamos o pôr do sol.
Abraços,
P.S.: No jantar pedimos um vinho para celebrar nosso passeio ao salar, ao tomarmos sentimo-nos deprimidos, imediatamente olhei o rótulo para saber de onde provinha esse líquido amargo. Qual não foi nossa surpresa ao descobrir que era um vinho boliviano! Não tentem reproduzir essa experiência, antes de pedir um vinho na Bolívia certifiquem-se da sua origem.


quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

32º dia de viagem – Colchane (Hotel Luna Salada) – 18 de janeiro

Mesmo tendo dormido por quase 10h seguidas acordei às 9h sentindo-me péssimo, a cabeça continuava doendo demais e a gripe não dava trégua. Depois de tomar café da manhã retornei ao quarto e dormi até 13:30h. Acordei, tomei remédio para gripe e Diamox para minimizar os efeitos da altitude, melhorei um pouco. Perguntamos se havia um transfer para Uyuni, pois precisava comprar parafusos e porcas para reparar a tampa do baú traseiro da Roseli, além de conseguir uma caminhonete para nos levar até a fronteira.
Para nossa sorte o motorista que nos levou à cidade era Rodrigo, um dos donos do hotel, finalmente encontrávamos vida inteligente na Bolívia, ele disse que uma caminhonete seria caríssimo, melhor tentarmos o trem. Pareceu-nos interessante viajar de trem com a Roseli no vagão de carga, teríamos uma outra perspectiva de viagem, embora estivéssemos alterando o roteiro original.
Em Uyuni passeamos, fomos ao Cemitério de Trens (descobrimos que Uyuni, por sua localização é um cruzamento ferroviário importante e que no passado nela montavam-se locomotivas e vagões, daí o Cemitério) e depois à estação ferroviária. Soubemos então que a Roseli não poderia embarcar, já que só há vagão para carga para o Norte, não para o Sul. Em desespero, comecei a parar caminhonetes no meio da rua para saber se alguém se dispunha a nos levar à fronteira, sem sucesso.

Na volta contamos a Rodrigo o ocorrido e ele nos informou que até Potosi são cerca de 80 km de chão batido mais 90 km de asfalto, e depois até Copacabana, às margens do Lago Titicaca, não pegaríamos mais estrada de chão, insistiu conosco que já estávamos muito perto do objetivo final de nossa viagem e que deveríamos continuar. Isolados nesse lugar perdido e sem ter opções para sair daqui com a Roseli, passamos a considerar a hipótese de retornar ao percurso original, restava convencer a Roseli de que essa seria uma alternativa viável.
Chegando ao hotel e antes do jantar consertei a tampa do baú com as peças que comprara em Uyuni, pois amanhã devemos ir ao Salar com a Roseli, seguindo um carro onde estarão outros brasileiros e um guia turístico. Mais feliz e com seu baú arrumado a Roseli concordou em sofrer por mais 80 km até Potosi, assim o roteiro original está garantido, vamos a Copacabana!!!
Roseli La Gorda, ela chegou onde só os 4x4 ousam ir.

Abraços.

31º dia de viagem – De Ollague a Uyuni – 17 de janeiro

Levantei-me mais cedo que de costume, às 6:40h já estava de pé, mas não adiantou muito, pois tive que esperar pelo café da manhã do hostal até às 8:30h. De qualquer maneira não havia muita urgência, já que queria encontrar com Helenilka que vinha no ônibus de Calama e chegaria à aduana chilena por volta das 9:30h.
Enquanto esperava por Helenilka resolvi fazer a aduana chilena e adiantar a aduana boliviana, 1000 metros à frente. Começava aí minha decepção. Na aduana chilena, nenhum problema, como sempre tudo foi rápido e eficiente, porém na imigração boliviana enfrentei uma fila, que parecia não ser respeitada por ninguém, e fui afrontado pelo policial, que de forma acintosa pediu meu atestado de vacinação contra a febre amarela. Apresentei e regularizei minha situação, faltava a da Roseli, já que veículos necessitam registrar o ingresso no país. Por todos os países pelos quais passei nesta viagem bastava preencher um formulário com os dados do veículo e entregar ao oficial da aduana, junto com o documento original, mas claro que na Bolívia tinha que ser diferente, o registro de ingresso do veículo é feito por um escritório de despachantes e é preciso pagar. No câmbio normal, 1000 pesos chilenos equivalem a 13 bolivianos, mas nesse escritório da fronteira 1000 pesos chilenos equivalem a 1 boliviano, ou seja, entra-se no país sendo roubado.

Fronteira com o Inferno, ops, Bolívia
Depois de encontrar a Helenilka e me certificar de que ela embarcara no ônibus para Uyuni segui viagem, imaginando que seria difícil, mas não tinha idéia do que me aguardava pelos próximos 220 km. Eram 10:30h.
Pense na pior estrada que você já passou, agora multiplique por 20, eleve à 5ª potência e talvez você tenha uma idéia do que eu estava enfrentando. Quando me disseram em San Pedro de Atacama que até mesmo as motos off Road, como BMW 1200GS, evitavam este caminho  achei que era exagero, estava enganado.Era impossível desenvolver velocidades superiores a 60 km/h e em alguns trechos a velocidade caía a míseros 20 km/h. À beira de estrada não havia nada, nem postos de combustíveis, povoados ou qualquer tipo de comércio onde pudesse pelo menos comprar água, era uma desolação total. 150 km de sofrimento depois cheguei a San Cristobal para abastecer, para minha surpresa o posto estava fechado para a siesta e só abriria após às 14h, calculei que o que me restava de combustível seria suficiente para chegar a Uyuni e voltei à estrada. 60 km depois tive que parar, pois a tampa do baú traseiro estava aberta, a trepidação fizera com que quatro parafusos se soltassem e que a borracha de vedação sumisse, tive que prender a tampa com esticadores e monitorá-la a cada 3 ou 5 km, Roseli estava odiando a Bolívia.

A tampa do traseiro da Roseli estropiada 
Finalmente cheguei a Uyuni às 18:30h com uma idéia fixa na cabeça, dormir e no dia seguinte arranjar um transporte para levar-nos os três, eu, Helenilka e Roseli de volta à civilização e ao asfalto na fronteira com a Argentina. Estava com muita raiva, não havia conseguido tomar sequer um copo d´água ao longo do dia, minha sinusite se manifestava violentamente, minha cabeça parecia que ia   explodir por causa da altitude, meus braços e minhas costas doíam fortemente por causa da vibração da estrada e do esforço para segurar a Roseli. Fiz câmbio de bolivianos, abasteci e segui para os últimos desagradáveis 25 km até o hotel em Colchane, em frente ao Salar. Cheguei ao hotel exausto, demasiadamente irritado e encontrei Helenilka, que também tivera experiências desagradáveis ao longo do dia e que gostou da idéia de partirmos imediatamente, purguei com ela minha frustração e desabei na cama.

Quando o caminho estava bom, era assim
Até breve,
P.S.: NUNCA FAÇAM ESTE PERCURSO DE MOTO, não importa qual seja ela, de custom, nem considerem a possibilidade. Dizer que a estrada é ruim, é um eufemismo, ela é apenas um caminho, nunca antes vira nada parecido.

31º dia de viagem – De Ollague a Uyuni – 17 de janeiro

Levantei-me mais cedo que de costume, às 6:40h já estava de pé, mas não adiantou muito, pois tive que esperar pelo café da manhã do hostal até às 8:30h. De qualquer maneira não havia muita urgência, já que queria encontrar com Helenilka que vinha no ônibus de Calama e chegaria à aduana chilena por volta das 9:30h.
Enquanto esperava por Helenilka resolvi fazer a aduana chilena e adiantar a aduana boliviana, 1000 metros à frente. Começava aí minha decepção. Na aduana chilena, nenhum problema, como sempre tudo foi rápido e eficiente, porém na imigração boliviana enfrentei uma fila, que parecia não ser respeitada por ninguém, e fui afrontado pelo policial, que de forma acintosa pediu meu atestado de vacinação contra a febre amarela. Apresentei e regularizei minha situação, faltava a da Roseli, já que veículos necessitam registrar o ingresso no país. Por todos os países pelos quais passei nesta viagem bastava preencher um formulário com os dados do veículo e entregar ao oficial da aduana, junto com o documento original, mas claro que na Bolívia tinha que ser diferente, o registro de ingresso do veículo é feito por um escritório de despachantes e é preciso pagar. No câmbio normal, 1000 pesos chilenos equivalem a 13 bolivianos, mas nesse escritório da fronteira 1000 pesos chilenos equivalem a 1 boliviano, ou seja, entra-se no país sendo roubado.

30º dia de viagem – De SPA a Ollague – 16 de janeiro

Depois de 9h de sono acordei hoje com dor de cabeça e com o corpo dolorido, era a gripe chegando ao seu auge justo no dia em que vou enfrentar o chão batido, mas o que não tem remédio, remediado está. Tudo pronto, galão reserva preso a Roseli, entramos na estrada rumo a Calama às 12h, mais tarde do que o previsto já que a moleza da gripe me deixou meio devagar. A viagem foi tranqüila e sem nenhum percalço.
Em Calama fomos procurar de onde saíam os Buses Atacama, a empresa que vai levar Helenilka até a fronteira. Encontramos a empresa e achamos um hotel praticamente colado ao lugar de onde saem os ônibus, melhor impossível. Com Helenilka já instalada fomos almoçar em um Bavaria, o mesmo de Antofagasta, descobrimos que a rede está presente em quase todo o Chile.
Saí de Calama às 16h com destino a Chiu-Chiu para depois ir a Cebollar e de lá para Ollague. A viagem até Chiu-Chiu foi tranqüila, mais ou menos 40 km com asfalto do bom.  Quando saí para Cebollar a estrada começou a piorar. Havia asfalto, mas era irregular, porém consegui andar entre 60 e 80 km/h. Quando cheguei ao Salar de Ascotan começaram os problemas. A estrada estava péssima, além de pedras, muitas costeletas e buracos, havia ainda a armadilha dos buracos de areia fofa.
No km 130 fui para o lado direito da pista para dar espaço a dois caminhões que vinham no sentido contrário, o vento me empurrou mais ainda e a Roseli se atolou na margem da estrada, caindo em cima da minha perna direita, que ficou torcida e presa. Ai, como doeu, eu não consegui tirar a perna nem levantar a moto. Pedi socorro ao motorista do caminhão, que prontamente parou e me ajudou a erguer a coitada da Roseli. Agradeci muito e continuei a viagem, o lugar era totalmente inóspito, não havia como parar para ver o estado da minha perna, havia vento demais e pó para todo lado. Foi realmente uma decisão acertada fazer esse trecho sem a Helenilka.
Andei uns 5 km e milagrosamente a estrada voltou a ter um asfalto razoável, estava chegando a Cebollar, passei a cidade e 10 km depois o asfalto acabou. Observei que havia saídas alternativas laterais, era caminho por todo lado, mas continuei na estrada principal que foi piorando cada vez mais. Quando cheguei a outro Salar, o de Carcote, virou o caos, acho que ali mora o coisa ruim, parecia o caminho para o inferno. No km 175 me deparo com dois buracos grandes de areia fofa, escolhi o que parecia menos ruim e páh, chão de novo. Desta vez foi mais feio, a Roseli deitou totalmente de lado e eu fui jogado à frente. Felizmente não me machuquei, só o dedo mínimo da mão direita ficou dolorido, ainda bem que sou canhoto. Levantei, dei a volta e puxei a Roseli sozinho. Liguei e fui embora todo sujo, mais 10 km e o asfalto razoável surge de novo, estava chegando a Ollague.  A cidade estava deserta, depois de umas voltas vi uma pessoa e mais outra, pedi informação e cheguei ao refúgio, ops, hostal (rsrs), jantei e fui dormir exaurido. Amanhã teria outro longo dia.

Até breve,

P.S.: Estamos com dificuldade de acesso à internet, pois o hotel está a 25 km de Uyuni, por isso está sendo difícil carregar as fotos. Assim que for possível atualizaremos os álbuns.

domingo, 16 de janeiro de 2011

Liberdade é o antônimo de medo - Depoimento de uma garupa

Depois de mais 1.500km na garupa da Roseli vou dar a minha visão do que é ser uma garupa, uns acham que é chato, outros que é uma moleza ficar ali atrás, alguns que é um tédio mortal, em geral, pessoas que nunca sentaram no banco de trás de uma moto, portanto nada melhor que uma garupa para dar um depoimento.
Antes de mais nada é preciso que saibam que tive que enfrentar o ciúme acachapante da Roseli. No segundo dia de viagem comigo ela se jogou ao chão como uma criança manhosa, não se machucou, mas raspou “sem querer” a pedaleira na minha perna deixando-me um hematoma gigante e dolorido. Deixei para lá, podia ser apenas paranóia minha. No dia seguinte, maliciosamente, ela abriu um buraco na minha mala de roupas, vi que precisávamos ter uma conversa séria. Garanti que ela vai ser a sempre a primeira no coração do Paulo, selamos então um armistício e estamos convivendo bem, afinal, não quero brigar com uma garota de mais de 350kg, seria um massacre.
Resolvidas as pendengas é hora de mostrar como viajo na Roseli, essa é a minha poltrona, com assento confortável, apoio traseiro e alças laterais (como bem disse um cara que encontramos na estrada: “isso não é uma moto, é um sofá sobre rodas”), viajo tranqüila e confortabilíssima, (às vezes até durmo) parando a cada 100 km para esticar as pernas, ir ao banheiro, fazer um lanche ou dar comida a Roseli.

Praticamente uma viagem de primeira classe

Levo minhas coisas nesta bolsa, tive que enfiar tudo o que necessito para 17 dias de viagem em uma bolsa de cerca de  35 litros, e até que foi mais fácil do que eu esperava, o Paulo também usa uma igual a minha, a diferença é que a Roseli deixa que ele coloque algumas coisas na bolsa dela, que é a maior de todas, junto com montes de equipamentos e acessórios que ela carrega, exagerada.


Quando estamos viajando estou sempre enxergando em diagonal, se olhar para frente tudo o que vejo são as costas do Paulo, mas graças a minha poltrona consigo ter grande mobilidade, apreciar a paisagem e tirar muitas fotos, garupa adora brincar de tirar fotos pelo retrovisor. Não preciso nem falar que é imprescindível gostar de moto e ter total confiança no piloto sem tentar assumir a posição de co-piloto, que em geral mais atrapalha que ajuda.
Acho que alguns de vocês já devem ter visto essa frase: “Quando viajo de carro eu vejo a paisagem, quando viajo de moto eu faço parte da paisagem”. Depois que comecei a viajar de moto com o Paulo (antes dessa fizemos outras viagens com a Roseli e com a Dragstar, que não chegou a ser batizada) entendi o verdadeiro sentido dessa frase. Viajar de moto é antes de tudo uma paixão, não é para aqueles que estão preocupados com cabelo, com sujeira, com cansaço, estes devem pegar um avião e chegar ao seu destino rapidamente.
Ao viajar de moto a interação com o mundo ao seu redor é completamente distinta daquela proporcionada pelo carro ou pelo ônibus (em outros tempos viajávamos muito de carro e recentemente cruzei parte do Chile de ônibus, portanto, sei do que estou falando), sinto o calor que derrete, o frio que entorpece a ponta dos dedos, cubro-me de poeira e suor, sinto a chuva caindo sobre o capacete, inspiro os odores bons e ruins, alegro-me com o vento refrescante e temo o maligno vento lateral que balança a Roseli de um lado para o outro. Mas quando desço da moto ao fim de mais um dia, cansada, suja e às vezes com fome, a felicidade de ter passado mais um dia na garupa é inexplicável e compensa tudo.


Ser garupa é almoçar sanduíche de 3 dias sentada à beira da estrada e achar uma iguaria


Quando subi pela primeira vez na garupa do Paulo e senti o vento no rosto decidi que eu queria pilotar a minha moto, e assim foi, minha companheira é a Telma, uma doce Virago 535 que me espera em Brasília, louca para cair na estrada, em minha jaqueta tenho bordada a frase: "Liberdade é o antônimo de medo". Por isso, essa provavelmente é minha última viagem como garupa, o que me leva a dizer que ser garupa só não é melhor que ser piloto.


Telma, orgulhosa de seus cromados.


Abraços,
Helenilka


29º dia de viagem - SPA (Gêiseres e Lagoas) - 15 de janeiro

Depois de dormirmos pouco mais de 2 horas acordamos às 3:45h para aquele que deveria ser um dos pontos altos da viagem, os Gêiseres de El Tatio, que estão em seu esplendor às 7h e somem às 10h da matina. Para nosso azar fomos os primeiros a ser pegos para o tour, a van já nos esperava às 4h. Saímos cambaleantes amaldiçoando a hora em que decidimos fazer esse passeio.  Ao contrário do dia anterior, em que o veículo do tour era um confortável microônibus Volare, hoje estávamos em uma van lotada, não havia espaço para esticar minhas pernas e como vimos, ou melhor, sentimos, o caminho era bem pior, pois a maior parte era chão batido em mau estado, obrigando o motorista a dirigir a 30 km/h e nos fazendo chacoalhar como se estivéssemos em um liquidificador.
Às 7h chegamos aos Gêiseres, pensei então que agora seria recompensado com um momento sublime, mas que decepção.  Olhando de longe só via fumaça, de perto a maior parte eram pequenas borbulhas de água, uns 2 ou 3 lançavam água acima do solo, mesmo assim a não mais que 1,20m. O frio era cortante, perto de 0° C (é justamente o frio da manhã que causa o fenômeno de vapor d´água), esqueci minhas luvas e o colete não aquecia o suficiente, Helenilka não estava muito melhor, ao tentar se aquecer em frente a uma área de vapor ela aspirou algum gás que a deixou tonta e desorientada, resolveu então voltar para a van aquecida e lá ficou desolada, nem o tripé ela usou dessa vez. A certeza de que esse era um programa de índio foi imediata, não havia muito a fazer, continuei caminhando entre os gêiseres tentando entender o que as pessoas vêem de tão incrível, juro que não entendi, gastamos cerca de 20.000 pesos chilenos por pessoa, entre entrada e tour, algo como R$ 70, dinheiro desperdiçado. Depois de 1 hora fomos para as Termas parecia que agora a coisa iria melhorar, poderíamos tomar um banho quente e relaxar, ledo engano, as tais termas são uma poça de água quente no chão lotada de gente, não havia sequer um vestiário, desistimos do banho mesmo tendo levado roupa para tal. O tempo parecia não passar, na volta vimos algumas lhamas, vicunhas, flamingos, nhandus e outros bichos da região, também paramos em um povoado onde provamos carne de lhama, suave e saborosa. Retornamos ao hotel às 12:15 com a certeza de que não recomendaremos esse passeio a ninguém, bem, talvez aos chatos (rsrs).
Gêiser

Vicunhas

De volta à SPA tratamos de procurar a passagem de Helenilka para Uyuni, pois várias pessoas disseram que a estrada está em péssimas condições , assim, além de evitar o desnecessário sofrimento de Helenilka, saculejando por mais de 300 km de chão batido, reduzo a instabilidade de moto que, é sempre maior em terrenos irregulares, ainda mais com uma garupa. Conseguimos passagem para a fronteira com a Bolívia para o dia 17, segunda-feira, lá ela deve pegar outro ônibus até Uyuni.
Voltamos ao hotel, gripado e com sono dormi por uma hora e meia, acordei e fomos para o segundo passeio, que, felizmente, salvou o nosso dia. A primeira parada foi nas Lagunas Cejar, duas lagoas que possuem 7 vezes mais sal que a água do mar, você fica boiando ou em pé sem o menor esforço, a água lhe empurra o tempo inteiro para cima, é uma delícia, ficamos brincando por lá durante uma hora, quando saímos estávamos brancos de sal e com o cabelo duro. Seguimos então para os Ojos Del Salar, duas lagoas de água doce, sendo uma delas aberta ao banho, hora de tirar um pouco do sal. A última parada foi na Lagoa Tebinquiche, onde ficamos até o pôr do sol tomando pisco. Essa é uma bela lagoa que durante os meses de verão fica quase sem água devido à evaporação, o que sobra é fina lâmina de alguns centímetros de água e uma extensa camada de sal, o lugar é espetacular, quando o sol vai se pondo seu reflexo nas Cordilheiras e na água proporcionam um cenário indescritível.
Flutuando na Lagoa Cejar

Pôr do sol na Lagoa Tebinquiche
Formações de sal

Já em SPA fomos dar uma volta na cidade e jantar uma massa, dica importante: sempre perguntem se o restaurante aceita cartão de crédito, ter os símbolos na porta de Visa, Master, Amex, não signica muita coisa por aqui. No Chile, é comum na hora do pagamento informarem que as máquinas estão fora de operação e que só aceitam dinheiro em espécie.

Amanhã saímos de SPA rumo a Calama para Helenilka pegar o ônibus, vamos nos reencontrar em Uyuni, e sigo para minha aventura pelo chão batido. Possivelmente só terei acesso à internet quando lá chegar, portanto, fiquem com o post a seguir: Depoimento de uma garupa.

Abraços.

sábado, 15 de janeiro de 2011

28º dia da viagem - Deserto de Atacama 14 de janeiro

Olá pessoal!

O dia começou cedo, às 8:00h estávamos prontos aguardando o transporte que nos levaria às lagoas altiplânicas. No caminho passamos na Quebrada de Jere, onde vimos como os atacamenhos viviam e guardavam seus alimentos numa "geladeira" improvisada, eles faziam covas no pé de um morro, enchiam de provisões e as lacravam com barro, muito engenhoso, a temperatura era mantida sempre baixa conservando os alimentos por um longo tempo.

Em seguida fomos conhecer o Salar de Atacama e o Parque Nacional dos Flamingos. Ao contrário do que se imagina um salar é rico em vida, vimos que as águas de suas lagoas tem krill, do qual se alimentam os flamingos e que lhes dá sua peculiar cor rosácea. Vimos também outros pequenos animais, um lagarto muito ativo e similar a uma lagartixa.




Depois do salar subimos a montanha para ver as lagunas, a 3.300 metros de altitude, em Sucaire, fizemos uma parada e uma caminhada de 10 minutos para aclimatação. Aqui senti algumas dores de cabeça, nada muito forte. Continuamos a subida até 4.200 metros para finalmente chegarmos às lagunas Meñiques (que possui um vulcão de mesmo nome) e Miscanti, a primeira com 15 km2 e a outra com 5 km2, neste ponto um menino que estava no tour precisou de oxigênio e uma adolescente tomou comprimidos para dor de cabeça, e eu, embora andasse devagar, senti muito cansaço. Felizmente, Helenilka não sentiu nada.




Não são lindas?

Antes que eu me esqueça, quem quiser parar de fumar basta subir a altitudes superiores a 4.000 metros, se já é difícil encontrar oxigênio, imaginem aspirar uma fumacinha, acho que é impossível, eu não consegui. Agora quando voltar a Brasília vou pedir uma licença remunerada para tratamento de saúde e volto aqui para parar de fumar (rsrs). Último registro: gripei, e forte, não sei como fazer para ir aos gêiseres, pois terei que acordar antes das 4:00h da manhã e subir a 4.300 metros com temperaturas inferiores a zero grau. Será que consigo?

Abraços e até breve!

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

27º dia da viagem Antofagasta – San Pedro de Atacama (SPA) 13 de janeiro

Partimos de Antofagasta pela saída norte, pensávamos que haveria um posto de gasolina quando chegássemos à Ruta 5. Ledo engano, tivemos que voltar ao acesso sul de Antofagasta para abastecer o tanque e um galão que compramos, eram 30 km de ida mais 30 km de volta, era meio dia quando finalmente seguimos viagem para SPA. Por volta das 14:00h paramos em Sierra Gorda para almoçar em um Restobar à beira da estrada, comemos bem e pagamos pouco, aproveitamos para tirar a segunda pele de frio, pela primeira vez sentimos o calor do deserto. Mais 50 km e estávamos em Calama, cidade de quase 150.000 habitantes, um oásis em pleno deserto, perdemo-nos procurando um posto para abastecer, entramos na cidade por um lado, saímos por outro, onde está a saída para SPA, é por aqui ou seria por ali? Resolvido o impasse tocamos até San Pedro, estrada com belas paisagens, deserto inóspito e ainda assim deslumbrante, vimos vários pequenos tornados, um deles queria nos pegar, Roseli foi mais rápida e escapamos por pouco.


Às 18:00h estávamos instalados no hotel, fomos então procurar agências de turismo para contratar os passeios. Acertamos um passeio às lagoas do altiplano e Salar de Atacama para amanhã e ida ao Geiseres de El Tatio e aos Ojos Del Salar no sábado, comemos uma pizza e voltamos ao hotel.

A cidade está agitada, bastante gente na rua, bichos-grilo por todos os lados, tinha até roda de capoeira! Há muitos brasileiros se divertindo e gastando seus reais por aqui, mas poucos suficientemente loucos para vir de moto para cá, muito menos de custom.

Hoje a Roseli estava disposta e fizemos uma bela viagem, tirando os erros de percurso (rsrs).


Estamos preocupados com o trecho de Callama a Uyuni, 500 km de chão batido. Temos dois dias para fazer o percurso, mas por segurança a Helenilka deve ir de ônibus, já fizemos algumas pesquisas na internet e parece que não será muito difícil encontrar passagem.

Até breve!

26º dia de viagem - Antofagasta - 12 de janeiro

E aí turma?

O dia prometia, saímos às 10:00h do hotel, precisávamos passar numa oficina para verificar as pastilhas de freio do disco traseiro, que ontem começaram a fazer barulho. O previsto era sair rumo a San Pedro no máximo às 15:00h, mas faltou combinar isso com a Roseli.

Quando Victor, o mecânico, desmontou o freio traseiro, constatamos que a pastilha externa estava boa, mas a interna havia sobrado apenas a sapata, acho que as pastilhas caíram no deserto. E agora? Fomos até a concessionária Suzuki na esperança de encontrar a peça, tempo perdido, exceto por ter encontrado a prima da Roseli, uma Boulevard M1800R que não está disponível no Brasil, linda!


Voltamos à oficina e Victor disse que poderia colocar a pastilha na sapata, mas teria que fazer o serviço numa tornearia, então autorizei, pois não poderia seguir sem o freio traseiro. A perspectiva mais otimista é que tudo estaria arrumado por volta das 18:00h. Se Roseli queria ficar em Antofagasta, nada poderíamos fazer. Resolvemos então aproveitar o dia e conhecer um pouco da cidade.

Já passava das 19:00h quando a Roseli estava pronta, então pensamos que vir a Antofagasta e não ver a La Portada é igual a ir a Roma e não ver o Papa. Saimos em busca de La Portada, decisão acertada.


Na volta viemos pela via costeira apreciando o anoitecer e, prudentemente, resolvemos pousar mais uma noite nesta agradável cidade, que se espreme entre as montanhas e o mar e não conhece chuva.


Abro aqui um parêntese para recomendar algumas casas que frequentamos: ontem jantamos no Bar e Restaurant Puerto Viejo, na Calle Copiapó, 957 lá comemos um filé de congrio na chapa espetacular acompanhado de um bom vinho branco, chileno é obvio. Perfeito. Hoje depois de um almoço no Club de La Union, fomos ao Loft Cafe, no calçadão central, Peatonal Prat, 470 onde pudemos provar vários cafés e sobremesas, fomos muito bem atendidos, o café dispõe também de internet wi-fi. Para fechar jantamos no Restaurant Bavária de comida típica alemã e com preço muito acessível, não me lembro de ter comido um chucrute melhor, ele fica na Calle Latorre, 2624 no centro. Obrigado Roseli, por ter nos feito ficar aqui. Então quem vier por estas bandas, aproveite as dicas e divirta-se.

Abraços e até San Pedro de Atacama!